A semana começou com Luiz Gonzaga no carro. CD de 1972, “ao vivo” no Rio de Janeiro. Já no início do disco, ouvindo-o repetir “se eu nascesse de novo”, e contar o que faria, emocionei-me de ver que na verdade ele contava sua vida, e afirmava que “se eu nascesse de novo”, faria tudo exatamente igual: filho dos mesmos pais, nascido na mesma terra que se diz ser pobre, e de gente sofredora.
Luiz Gonzaga já seria motivo suficiente para um texto. Seria até suficiência demais, dada a sua genialidade e importância. Mas não é ele que me traz aqui, a esse texto, e sim o que ele me trouxe. Melhor, aonde ele me levou.
Fui à “manhã de sol” da Associação Recreativa dos Trabalhadores em Telecomunicações do Estado do Piauí – o “Clube da Telepisa” – passeios certos dos sábados da minha infância. Vi meu pai e a Graça, minha madrasta, no meio do salão, com seus passos em pulinhos, e seus sorrisos cúmplices de alegria.
Aguaram meus olhos de saudade daquela mulher que conquistou o posto de “mãe II”, com o aval de nossa mãe. Saudade doída de tudo o que ela foi. Da alegria, da irreverência, do jeito de falar fechando os olhos, dos cabelos muito pretos e lisos com seu corte “Chanel”. Saudade das estratégias que bolávamos pra convencer meu pai dos passeios que queríamos; das visitas ao trabalho dela, quando eu voltava do colégio; de ouvi-la me apresentar como sua filha.
Mas chorar, eu chorei mesmo foi a saudade do que não foi; do que poderia ter sido; do que seria hoje, se ela estivesse aqui. Certamente eu ouviria a Graça pedir neto cada vez que me encontrasse. Riria do jeito dela de falar com o Alexandre, que ela não conheceu, mas pressinto que tipo de relação teriam.
Chorei os “eu te amo” que eu não disse. Lamentei ela não ter sabido o quanto foi, e é, importante pra mim.
E choro enquanto escrevo, pedindo a Deus que hoje ela saiba. E que também saiba que agradeço por ter dividido conosco o amor de mãe; e por ter se importado; e por ter me dito coisas que eu precisava ouvir, e ter calado outras que eu não entenderia, e que agora sei; e por ter deixado conosco um pedaço seu - um irmão - que é quase um inteiro, de tão parecido que é, em personalidade e fisionomia, e que a cada ano que passa, para nossa felicidade, estampa a mãe mais e mais.
Luiz Gonzaga que me perdoe o papel secundário que teve. Mas a Graça era assim: quando chegava, ocupava todos os espaços. E ao contrário da tristeza que transpareço, pela saudade que mesmo depois de oito anos não sabe ter outra forma, é de alegria que me abasteço, quando nela eu penso.
P.S.s.:
Obrigada, pai, por ter sabido escolher nossas mães.
Obrigada, Rômulo, por ter dividido sua mãe com a gente.